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Sumário

Fronteiras Urbanas: A dinâmica de encontros culturais na educação comunitária.

 

O Projecto Fronteiras Urbanas apresenta-se como um movimento etnográfico crítico centrado no desenvolvimento de uma política educativa emancipatória por meio da observação participante de conhecimentos presentes em comunidades multiculturais. Este movimento é fruto da continuação de pequenos projectos de intervenção e de investigação que decorreram em duas comunidades da cidade da Costa de Caparica, localizada em Portugal, na margem sul do Rio Tejo – margem oposta à capital Lisboa, tendo como limites geográficos o mar e a Arriba Fóssil.

A Costa de Caparica, cujo povoamento remonta ao século XVIII, é um dos maiores centros multiculturais de Portugal e tem vindo a desenvolver-se centrada em duas comunidades de base: a piscatória e a agrícola. A zona costeira da freguesia de Caparica, designada por Costa, foi desenvolvida por duas companhas de pescadores oriundos de Ílhavo e de Olhão – regiões a Norte e a Sul de Portugal, respectivamente. A área de terras na base da Arriba Fóssil, designada por Terras da Costa, foi desenvolvida pela comunidade agrícola e, actualmente, encontra-se ocupada pela população de imigrantes oriundos dos Países de Língua Portuguesa, pela comunidade cigana e por migrantes portugueses.

Este projecto pretende fazer ouvir as vozes multiculturais, encontradas nessas duas comunidades locais (Comunidade Piscatória e Comunidade das Terras da Costa), por via de uma etnografia crítica. Este processo de busca e compreensão nas dimensões intra e intercultural é essencial para aclarar os processos educativos desenvolvidos nas comunidades locais, indo ao encontro das necessidades locais definidas pelos seus membros, e para o reconhecimento “simbólico” dessas comunidades pela sociedade como um todo, com o intuito de serem percebidas como parte integrante e actuante na diversidade cultural que representam e na hegemonia urbana em que estão inseridas geograficamente.

Duas comunidades locais que se asseguram pelo comum de serem incomuns à sociedade maior na qual co-habitam, e por serem constituídas na diversidade cultural, vêm manifestar-se neste projecto como investigadores das suas próprias práticas educativas e como construtores activos dos recursos e instrumentos que estão na base da observação aqui proposta. A intervenção dos membros das comunidades locais em simbiose com as intervenções dialógicas nos próprios campos de acção define uma observação participante.

Este projecto surge em resposta às reflexões que até agora têm sido feitas a nível dos encontros culturais dentro dos espaços reconhecidos como de educação, num processo de valorização do conhecimento centrado na organização e gestão de situações diferenciadas e interactivas de aprendizagem, que as novas tecnologias de informação e comunicação não só facilitam como exigem.

Assim sendo, o desenho fundamental deste projecto enquadra-se na percepção das estratégias da acção educativa dentro dessas duas comunidades multiculturais, buscando organizar parâmetros para um currículo de educação intercultural assentados na realidade sociocultural e económica dessas comunidades.

Propomos o Currículo Trivium, desenvolvido por Ubiratan D’Ambrosio, na busca de reforçar a cidadania plena nesta época inegável de encontros e confrontos culturais e de proporcionar instrumentos de sobrevivência numa sociedade onde os valores e a ética são conceitos determinantes para este reforço. Um novo conceito de currículo, baseado em literacia, materacia e tecnoracia: (1) faz salientar os conhecimentos presentes nas comunidades locais, por meio de instrumentos de sobrevivência nos quais as dimensões diversidade e globalização convergem, explicitando e discutindo as contradições nelas existentes, (2) garante um currículo global que mantém a diversidade cultural, e (3) torna, desta forma, reais expectativas de se minimizarem iniquidades e violações da dignidade humana como primeiro passo para a justiça social.

Neste modelo curricular, entende-se currículo de uma forma abrangente como a estratégia de acção educativa, que possibilita o domínio equitativo de conhecimentos necessários para uma sobrevivência activa e participativa, indo além do ler, escrever e contar, através de uma visão crítica dos instrumentos. Apresenta-se, assim, uma proposta de compreensão do currículo através de uma observação focada nos instrumentos comunicativos (literacia), nos instrumentos analíticos (materacia) e nos instrumentos materiais (tecnoracia).

Neste movimento, um crescimento mútuo de investigadores com menos experiência em investigação nesta área do conhecimento reforça a coerência da dinâmica de encontros culturais aqui proposta. Novos investigadores, cada um em seu novo papel, tecem uma rede de perspectivas, intenções, necessidades, acções e produções que vão fortalecer o carácter interventivo de cada participante (membros das comunidades locais/membros da comunidade científica) na sua respectiva comunidade, o reconhecimento da nossa igualdade legal e o entendimento de processos educacionais ocultos noutras formas de investigação.

Palavras-chave: Educação comunitária, etnografia crítica,mediação intercultural, política educativa emancipatória.

Investigadores

Mónica Mesquita  (IR)

Ana Ramalhete  – PhD  – Universidade Autónoma de Lisboa

Ana Paula Caetano  – PhD

Isabel Freire – PhD

Alexandre Pais – Doutorando – Aalborg University

Nuno Vieira – Doutorando – Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologia

Francisco Silva – Doutorando

Sílvia Franco  – Mestranda

Lia Laporta – Mestranda – Ghent University

Bolseiro de Investigação  ( Mestre em Arquitectura Urbana) – Cedido pela Universidade Autónoma de Lisboa