A Costa de Caparica localizada no concelho de Almada, situa-se na orla costeira Ocidental a Sul da foz do rio Tejo, inserindo-se numa paisagem que se prolonga para Sul até ao Cabo Espichel é limitada a Oeste pelo oceano Atlântico e a Este por uma arriba fóssil, o espaço existente entre estes dois elementos estruturantes da paisagem, era até finais do século XIX ocupado por terrenos arenosos de dunas e juncais. A natureza dos solos e a existência de vastas áreas pantanosas tornavam esta zona do concelho imprópria para a actividade agrícola, por outro lado as comunidades piscatórias almadenses estavam instaladas ao longo da margem estuarina, nomeadamente em Cacilhas, Porto Brandão ou Trafaria. Nessa medida, a área de praias da freguesia de Caparica designada por Costa manteve-se despovoada até ao século XVIII, quando algumas companhas de pescadores oriundos de Ílhavo e de Olhão, que já anteriormente frequentavam sazonalmente estas praias, se fixaram definitivamente a partir de 1770, para aqui exercerem a sua actividade, beneficiando de melhores condições de trabalho, mar mais calmo e condições de mercado mais vantajosas do que nas suas terras de origem. A organização social destas primeiras comunidades locais baseava-se em laços familiares e laborais sendo que cada companha constituía como que uma família alargada, num segundo nível, as terras de origem marcavam de forma mais profunda a separação social entre ilhavos e algarvios, que ocupavam espaços territoriais diferenciados, cuja linha divisória (actual Rua dos Pescadores) separava os descendentes dos ilhavenses a Norte e dos algarvios a Sul. Em de finais do século XIX, como forma de eliminar os surtos de febres paludosas, associadas à existência de charcos e pântanos, o governo do reino determina, a partir de 1882, a abertura de valas de drenagem e a florestação de parte do areal, criando condições propícias ao cultivo da vinha e hortaliças. Estas transformações na paisagem conduziram igualmente a uma alteração na malha social, na medida em que se instalaram no território, até então exclusivo dos pescadores, famílias de agricultores. Em 1925 com a classificação da Costa como estância turística e balnear inicia-se uma nova fase do desenvolvimento desta localidade que á época não era mais do que uma povoação piscatória, em 1930 é criada uma comissão para a promoção do turismo na Costa e é construído o do Hotel Praia do Sol. No ano de 1937 é inaugurada a Junta Central da Casa dos Pescadores, iniciativa do Estado Novo para integrar a comunidade piscatória, entretanto ligada à promoção da imagem turística local e beneficiando da visibilidade devida à proximidade da capital. Na mesma linha é inaugurada em 1939 a colónia de férias da Federação Nacional para a Alegria no Trabalho “Um lugar ao Sol”. Procurando atrair o investimento das elites sociais, a Câmara Municipal de Almada, ao abrigo do decreto-lei de 1940 que autorizava as autarquias a alienar os baldios, vai promover a venda de lotes de terreno na Costa de Caparica destinados à construção de casas de férias, acabando por atrair uma outra população, uma nova comunidade. Na sequência do processo de descolonização que se seguiu à revolução de 25 de Abril de 1974 e consequente imigração de populações oriundas dos Países de Língua Oficial Portuguesa, alguns espaços da Costa de Caparica foram ocupados por bairros clandestinos nomeadamente na Mata de Santo António e nas Terras da Costa. Com o realojamento dos moradores e reordenamento do espaço do primeiro, no âmbito do Programa Polis, ficou o bairro que actualmente se encontra nas Terras da Costa e sobre o qual incide o presente projecto de investigação. Assim na sequência do enquadramento apresentado pretende-se investigar os eventuais paralelismos e interdependências existentes entre as várias comunidades que ocupam uma área geográfica definida e as razões que contribuíram para a fixação destas comunidades específicas que habitam no bairro das Terras da Costa.